
E eu tô pensando no post do pós-parto dos meninos e nem sei por onde começar. Eu gosto de falar, de escrever, falo muito e rápido, quando o meu marido chega em casa e eu falo: “Você não sabe o que aconteceu hoje!” ou “sabe o que eu tava pensando?”, a resposta dele sempre é: “Cá, resume...”. Pois é, mas para as mães, contar histórias e gracinhas dos filhos, ou como foi a gravidez e o parto, nunca é fácil resumir, concordam? Então, vou começar pelo o que considero o meu começo e, se vocês quiserem, podem ler linha sim, linha não, mas garanto que vão perder detalhes mega-master importantes, viu?!
Em uma consulta de rotina com o meu ginecologista, conversamos sobre milhares de coisas, ele fala de política, futebol, restaurantes, vinhos, conta “causos”; consulta rápida, apressada e protocolar não faz parte da agenda dele. Por essas e por outras, ele é tão querido e especial. Bom, naquele dia, falamos sobre os tratamentos para fertilidade, a clínica dele faz esse tipo de trabalho, e ele foi muito enfático quanto às gestações múltiplas decorrentes dos tratamentos: “o corpo da mulher não foi preparado para gerar e carregar mais de um bebê, a gravidez múltipla é sempre de risco.”
Ok, fim de papo, da consulta, tudo em ordem comigo e com os meus exames. Fui para casa.
Um mês depois, de férias, descobri que estava grávida novamente, feliz da vida, comemoramos. Volta das férias, consulta com o médico, gravidez confirmada, ele me pediu o ultrasom. Logo no primeiro, gravidez de cinco semanas, constatamos sem a menor dúvida que eram dois bebês e já soubemos que eram univitelinos, ou seja, idênticos. O médico conseguiu ver isso, pois havia apenas uma membrana de sei-lá-o-que, significando uma única placenta. (Podem corrigir, se eu estiver errada, mas me lembro que alguma coisa apontou para uma placenta).
O exame acabou após o meu ataque de riso e o meu marido em estado de choque, de boca aberta por quase 10 minutos, mas estava tudo bem e normal com os bebês.
Saindo do ultrasom, me lembrei daquela consulta. Da gravidez de risco. De que o meu corpo não estava preparado para carregar gêmeos e eu sabia que a minha ansiedade, o medo do risco duraria o quanto durasse a minha gravidez, o máximo de tempo possível que eu conseguisse carregá-los, isso se não acontecesse nada antes. Não me perguntem o que é esse “nada”, porque eu não gosto nem de lembrar o que se passava pela minha cabeça diante dessa novidade. O temor de que algo ruim pudesse acontecer era muito maior do que o susto e a surpresa de ter e criar dois filhos de uma vez. Quer presente e benção maiores do que esses dois molequinhos???
E eu peguei o telefone e liguei no celular do meu médico para contar, eu só queria que ele me acalmasse, que não é tanto risco assim, que ficaria tudo bem. Ele foi fofo, mas não poderia me iludir, dizendo que no MEU caso seria diferente, me acalmou, acolheu como sempre e ressaltou que eu deveria ter mais cuidados, mais repouso, mas que conversaríamos melhor na próxima consulta.
As consultas foram acontecendo normalmente, o pré-natal foi ótimo, sem intercorrências ou sustos, tudo bem normal e tranqüilo. Apenas precisei tomar umas injeções de cortisona para acelerar o desenvolvimento dos pulmões dos meninos , caso eles fossem prematuros. O “caso” já me agoniava e eu teria tomado todas as injeções das farmácias do bairro, mas não foi necessário.
A maior curiosidade que descobri a respeito dos gêmeos foi a questão de uni e bivitelinos. No nosso caso, uni, trata-se de um único óvulo que, por algum motivo não explicado pela medicina, se divide igualmente e gera dois bebês idênticos. O médico falou que era puro “acaso” e com o acaso a gente não briga e não discute. Era pra ser. E foram. E são Joaquim e Pedro, que não poderiam ser Joaquim ou Pedro. Não sei o que seria da minha vida ou da nossa família com um ou outro. Impossível, não existe.
Voltando à curiosidade, os bivitelinos são dois ou mais óvulos. Podem ser gerados através de inseminação ou tratamento, ou quando a mulher, no momento da ovulação, libera mais de um óvulo. Nesse caso, os bebês múltiplos são sempre diferentes, parecidos como irmãos, mas jamais idênticos. Univitelinos têm sempre o mesmo sexo, os bi, não. Portanto, fica a dica, se encontrar uma família com gêmeos idênticos, não são frutos de tratamento e inseminação, mas gêmeos diferentes, hummmmm, desconfie e seja discreta, muitos pais que fazem tratamentos não gostam de sair por aí contando as dificuldades que enfrentaram para engravidar.
E a gravidez foi caminhando normalmente, a minha vida a um milhão por hora, toquei a obra do nosso apartamento novo, cuidei dos muitos pepinos, da Manuzinha que nem andava, fiz a mudança 15 dias antes dos meninos nascerem, abri as caixas, desembalei as coisas, arrumei a casa, subi na escada para organizar armários, tentei arrastar o sofá, mas não me deixaram.
As consultas com o médico passaram a acontecer duas vezes por semana e, em uma sexta feira, ele me disse que “chega, pode ir para o hospital amanhã. Você está cansada, os bebês com peso e tamanho excelentes, já deu.”
E naquela noite eu não dormi. Na manhã seguinte, eu não tomei nem o chá sem açúcar que o médico recomendou como café da manhã leve. Fui eu, meu barrigão, meus 18 kg extras, três malinhas e o meu marido para a maternidade.
Logo, na triagem, o primeiro susto: só um coração batia. Nada da enfermeira achar o outro coraçãozinho. Procurou, procurou, o meu coração batia por nós três, mas nada. O tal do coração era o do Pedro, esmagadinho embaixo do Joaquim espaçoso (desde sempre, filho!), depois encontrado. Mas aquela procura pela batimento cardíaco durou uma eternidade e eu entendi que era a hora, chega mesmo, vamos conhecer logo esses gêmeos idênticos, que dividiram (de forma injusta, viu seu Joaquim?!) o espaço da minha barriga por 37 semanas e 4 dias. Falo isso porque os médicos disseram que o Joaquim estava bem, lindo e formoso lá dentro, mas o Pedro tinha um espaço muito reduzido na minha barriga, foi prejudicado e já estava prontinho para vir ao mundo e a todos os colos daqui de fora.
Como se não bastasse, o dia determinado pelo médico para a cesárea era uma data meio cabalística, favorita das numerólogas. E ficamos horas em espera para liberarem uma sala de parto. Acharam até que estavam nos fazendo um favor e nos agradando por terem nos colocado em uma salinha com sofazinho, TV. Ficamos com toda a equipe médica assistindo aos jogos olímpicos. Eu nunca gostei de olimpíadas, naquela situação então, nada mais detestável! Enorme, cansada, ansiosa, com a camisolinha de abertura nas costas, pelamordedeus, façam o meu parto logo! Me internei às 9 da manhã, o parto durou uma hora e os meninos nasceram às 13:45h, deu para perceber a espera mais longa do mundo...
E tudo correu bem, cesárea sem sustos, sem novidades para uma mãe de segunda viagem, a diferença foi receber dois pacotinhos nada diferentes de gorrinhos azuis... Um mais lindo que o outro, mesmo sem eu conseguir saber quem era o um e quem era o outro naqueles primeiros momentos de vida.
E foi aí que as coisas começaram a acontecer. Durante o período de observação, comecei a ter um mal-estar, enjôo, tontura e muito frio. A enfermeira foi chamada, checou a pressão e estava 6 por 3. Os médicos, que estavam pegando o carro no manobrista, foram chamados de volta, perceberam que era grave, se trocaram e ficaram ao meu lado até a hora em que tudo estava normalizado e controlado. Só subi para o quarto às 8 da noite.
E, para resumir, (depois de quase três páginas, Camila??) tive uma hemorragia grave, se não me engano o nome é “atonia uterina”, que significa que a musculatura do útero foi muito forçada durante a gravidez, eram 2 bebês enormes, Joaquim nasceu com 3,2kg e o Pedro com 2,4kg. Os movimentos normais seriam contrações uterinas para que fosse voltando ao seu tamanho normal. Mas o meu “esticou” tanto e não conseguia voltar sozinho. Sabe um elástico que estica tanto, mas tanto e aí fica bem maior do que era, sem elasticidade nenhuma? Prazer, útero da Camila. Que quase foi retirado, caso não parasse a hemorragia. Outra opção? Transfusão de sangue. Nada disso precisou ser feito, foi tudo controlado com soro, uns 8 litros.
Ganhei de presente um inchaço maior do que o da gravidez, uma anemia e uma cara de fantasma ambulante.
Mas outro dia, eu estava conversando sobre parto normal e cesárea com alguém e falei: “Olha, não precisa ter medo de cesárea, eu fiz duas e foi tudo tão maravilhoso, uma recuperação excelente, tranqüila”. O meu marido interrompe: “O que?? Esqueceu que você quase morreu de hemorragia depois do parto?”. Pois é, esqueci. Completamente. Dizem que se a gente não esquecesse da dor de parto, jamais teria outro filho. E isso vale para todas as dificuldades enfrentadas como mãe e pai. A gente esquece, porque o que vem depois é tão, tão bom, que o ruim fica até bobo.
E eu me esqueci de falar do pós-parto propriamente dito. Mas não vou esquecer em um próximo post, prometo, novamente de roupãozinho branco, que agora combinava com a cara de fantasma ambulante!
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