Muito se fala, muito se lê, muito se divulga e muito se discute sobre os teóricos (ou teóricas) que publicaram livros sobre as mulheres e o exercício da maternidade. Identifico duas correntes mais fortes: as feministas e as “badinteristas” (uma expressão que eu ouvi outro dia e adorei!).
Essas duas abordagens são as mais polêmicas e, na minha opinião, aquelas em que mais tentamos nos identificar e nos inspirar.
Pois bem.
Agora, lanço a vocês um dado muito, muito pessoal e de constatação própria: percebi, depois de um certo tempo deitada no divã, que a minha análise, especialmente no período pós-filhos, baseia-se justamente nessa questão da construção do feminino.
É mais ou menos uma viagem psicanalítica refletindo sobre a mãe e a mulher que eu sou e a maternidade por mim exercida. Só que isso vai além dos livros, dos teóricos e das abordagens, pois há um aspecto de gigantesca importância e influência sobre cada uma de nós, muito maior e mais forte do que qualquer livro ou idéia que compartilhamos: são as mulheres das nossas vidas.
Aquelas que nos criaram, nos inspiraram, estiveram sempre ao nosso lado, nos educando dia após dia. Aquelas que nos deram bronca, amor, carinho, cuidado, alimento, calor e que, sem a menor intencionalidade, serviram de exemplo para o resto da vida. Isso não requer instrução ou conhecimento teórico de nada, é simplesmente parte do desenvolvimento natural do feminino, influencia mais do que o melhor livro já lido na vida sobre esse assunto e é passado de geração em geração.
O exemplo clássico da influência mais forte do feminino em uma determinada mulher é a sua própria mãe, mas isso não impede que uma avó, tia, prima, vizinha, madrasta e etc exerçam fortes influências em uma pessoa. Como estou escrevendo esse post pensando no feminino pós-filhos, não posso deixar de incluir aí a sogra, afinal, um casal que cria um filho tem lá as suas respectivas fortes influências: a mãe de um, a sogra do outro e vice-e-versa.
Então, voltando a minha reflexão pessoal, eu tenho essa forte influência “mãezística”, “sogrística” e de algumas outras mulheres importantes. A minha trajetória sofre inúmeras intervenções externas, ou talvez sejam muito, muito internas e são elas poderosos determinantes da mulher e da mãe que eu sou. Isso não quer dizer que eu esteja desmerecendo os livros e os estudiosos todos, mas sim que hoje eu entendo, ou melhor, procuro entender, a pessoa que eu me tornei pelas influências das grandes mulheres da minha vida.
Eu já achei que a minha mãe era o máximo, perfeita e quis fazer exatamente tudo igual ao que ela fazia. Não deu certo. Então, o movimento natural foi de fazer tudo exatamente oposto ao que ela fazia. Também não deu certo. O mesmo com a minha sogra. Igual, não deu certo. Oposto, menos ainda.
Digo isso, pois a solução (apesar de ser inatingível?) é encontrar o meio termo. Algo entre a mãe e a sogra e todas as outras grandes mulheres. Mas que tenha um tempero próprio e já que eu falei em tempero, vamos tratar de preparar essa receita em uma apresentação muito única, pois assim é que se é. A mãe pode acrescentar uma xícara de açúcar, a sogra põe o fermento, a Badinter a manteiga, a Camille Paglia o leite, todo mundo fica em volta dando pitaco na quantidade do chocolate e no tempo de cozimento, mas o ingrediente secreto é de nosso conhecimento pessoal, assim como o tempo do banho-maria. Nem adiante tentar anotar.
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4 comentários:
Oi camila, que post especial. Gostei da sua reflexão e me fez refletir também, eu gosto de ler muito e vários autores, mas no final das contas quem acaba influenciando mais e sempre é mesmo minha mãe e e sua experiência. As vezes ela me tira do sério, brigamos, dois minutos depois está tudo bem, nos acertamos.
Ser mãe é bem isso, agregamos e colocamos um pouquinho do que é nosso, tempero especial, tempero que nos faz mães únicas.
Beijão
Karin
www.mamaeecia.com.br
Boa reflexão. Podemos ser todas ou nenhuma todos os dias, podemos tirar os melhores ou piores exemplos, mas sempre seremos diferentes, porque somos quem podemos ser com aquilo que temos. Valeu. Nosso objetivo é acertar não é?
Muito bom texto. É isso mesmo, é o nosso meio termo que importa e que nos faz a ser a mãe e a mulher que somos!
Um beijão
Gabi
www.minhas3meninas.com.br
Pois é, Camila.
Quantos anos deitadas no divã a gente não passa pra chegar perto dessas construções? E - pelo menos pra mim - ainda fica sempre a sensação de que falta tanto a falar. De que definir o que é ser mulher, ainda que individualmente (a mulher em cada uma, e não "a" mulher) é tão inatingível...
Recentemente li trechos de um livro da Collete Soler - "O que Lacan dizia das mulheres". Nada a ver com maternidade (se é que dá pra separar), mas muuuuito bacana. Gostei dela.
Corajoso seu texto. Bonito e autêntico. Adorei.
Um beijo!
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