terça-feira, 25 de maio de 2010

Os Mundos


Continuando a falar da Edição Veja Especial Mulher, tem um artigo a respeito de trabalho e maternidade, cujo título é “Meu bebê é como um vício – Por que o feminismo não admite o prazer de ser mãe?”, escrito pela escritora e jornalista Katie Roiphe, especialista em temas femininos.

O título em si já é maravilhoso e a escritora começa contando que perdeu “todas as ambições mundanas” a partir do nascimento do seu bebê. Quando precisa pensar em trabalho, a sensação é de “pavor”.

Alguém se identifica? Ou se identificou? Tudo isso parece familiar, mas, ao mesmo tempo, tão particular, que muitas vezes nem conseguimos colocar em palavras, afinal, não entendemos o que está acontecendo, que mudanças são essas, esses sentimentos novos e necessidades absurdas de adaptação. E se, de repente, você começar a chorar mais do que um bebê, é disso aí que ela está falando.

Mas eu queria colocar nesse post as palavras dela, tão esclarecedoras, que agem como um verdadeiro alívio, especialmente para as “mães frescas”:

“As pessoas costumam comparar o fato de ter um bebê aos primeiros dias de um namoro, o que faz sentido até certo ponto. Mas a fixação física e o anseio pelo bebê são muito mais intensos. Com que freqüência num namoro você se vê literalmente às lágrimas porque ficou longe de um homem durante três horas? Imagino que uma metáfora melhor seria a dependência química.

Uma das desonestidades menores do movimento feminista tem sido subestimar a paixão dessa fase da vida, para em vez disso tentar uma avaliação racional e politicamente vantajosa. Historicamente, as feministas enfatizam as dificuldades e o peso de ser mãe. Elas tentaram traçar uma analogia entre a puericultura e o trabalho masculino; então, por muito tempo as mulheres chamaram a maternidade de “vocação”. A tarefa de cuidar de um bebê é árdua e exigente, é claro, mas é mais bárbara e narcótica do que qualquer tipo de trabalho que eu já tenha feito.

Imagino que pessoas normalmente inteligentes e descomplicadas achem esse tipo de conversa sobre bebês muito chato. Noto que, quando tento me forçar a conversar sobre outra coisa que não o meu filhote, tenho de pensar: “Agora é hora de conversar sobre outra coisa que não o bebê. Admito vagamente que isso é que é maçante nos pais, e certamente na nossa atual cultura da paternidade/maternidade: esse fluxo subterrâneo de autocongratulação.

Parte da atração da licença-maternidade é precisamente essa: você abre mão de tudo. Os livros na estante não são os seus livros; as roupas penduradas no armário não são as suas roupas. Você é o animal vago, lento e exausto, tomando conta dos seus filhotes. Qualquer coisa graciosa, original, aguda ou inteligente que você tivesse sumiu, é a negação total do mundo exterior – mais eis o apelo desse período.
Sei que em algum lugar por aí há um grande mundo, onde as pessoas conversam, pensam e escrevem, mas ainda não estou interessada em ir para lá.”


E vocês, em que mundo se encontram?

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8 comentários:

Mamma Mini disse...

Fantástico, não tinha lido ainda... acho que é tão isso tudo e mais um monte de coisas e sentimentos né? temos que validar nossa escolha de cuidar dos filhos e ficar perto deles diariamente, dias melhores dias piores, mas ver a evolução, cada conquista, é o prêmio, é o que faz tudo valer a pena, é a recompensa do trabalho árduo e prazeroso. Não me arrependo de ter deixado a vida coorporativa de lado em nome de uma rotina mais flexível ao lado do meu filho mas vejo que só isso também não me basta, são experiências e equações que precisam dar certo...e pra cada um vai ser de um jeito. Por aqui continuamos tentando...bjs

Juliana disse...

Nossa, adorei o teu post. Estou passando exatamente por isso. Ansiando por voltar a ser a "eu" de antes e ciente de que nunca mais serei. Sofrendo absurdamente com o fim da licença e "fazendo de conta" que não dói tanto assim. Ser mãe é realmente a coisa mais complicada e prazerosa que já vivenciei. Um abraço.

Jéssica disse...

Virei fã declarada (e assídua) aqui... comecei a ler faz um tempo, mas ainda não tinha comentado. Espero que vc continue postando coisas excepcionais e que eu consiga ser pro resto da vida uma mãe igualmente excepcional.

Carinhosamente,

Jéssica (mãe da Giovanna e da Maria Luiza)
maesmulheresetal.blogspot.com

Roberta Lippi disse...

Eu li esse artigo. E também achei fantástico. Me identifiquei totalmente.
bjs

Di disse...

Ai... Hoje fui jantar com amigos prq comemorar meu aniversario. Levei a Rebeca junto, por que nunca, jamais passaria meu anversario Longe dela. E o fato é que todos os assuntos foram por mim ouvidos com apenas um dos meus lados, quase que literalmente. Minha atenção não eram as pessoas, por mais que o Taz tenha feito um baita esforço pra ficar com a Rebeca, e ela com ele e com uma amiga minha, e me deixar desfrutar a compania dos outros. E eu tentei, fiz o melhor que pude, e estou bastante satisfeita com o resultado. Mas minha atenção estava lá, na minha pequena, brincando, dando risada, batendo palminhas, comendo sua papinha, pulando de colo em colo e andando pela mesa. Ouvi as historias dos outros, mas de verdade mesmo so me senti a vontade quando falva da Rebeca, com a Rebeca.

E tive e tenho admitido com cada vez mais frequencia: não, nem quero fazer parte desse mundo ai de fora não... Ta TÃO BOM aqui!

Carol Garcia disse...

nossa! nossa!
incrível! vou imprimeir o texto e mostrar pra todos os marmanjos que não entendem como uma mama se sente. como é duro deixar o filho doente em casa pra bater cartão. como foi difícil ver o fim da licença maternidade.
ufa...
ótimo post!
bjocas
carol
viajandonamaternidade.blogspot.com

Marcia disse...

Olá Camila, esse texto é muito verdadeiro.
Voltar ao trabalho é extremamente difícil, eu chorava todos os dias ao sair de casa... ia guiando às lágrimas... chegava com o rosto inchado. No segundo, até que foi "um pouco mais tranquilo"... Mas por minha vontade, teria parado de trabalhar prá ficar "labendo as crias". Mas minha necessidade falou mais alto, infelizmente.
Acredito que possamos/devemos fazer coisas que sempre gostamos... mas tudo ao seu tempo... temos mais é que curtir a fase de "lamber"... depois, eles crescem e começam a ter seus próprios interesses... e as mães (prá não ficarem loucas) aos poucos vão se interessando por outros assuntos... Mas a vida JAMAIS será igual.

Abraços,

Chris Ferreira disse...

Ótimo. Você sempre com boas dicas de textos.
Eu me sinto assim mesmo mas não consegui ter coragem para parar de trabalhar.
Estou de licença médica devido a cirurgia e estou AMANDOOO ficar em casa.
Vou procurar esse texto na revista.
beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/

 
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