quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Como faz para não morrer?

Maridinho me “presenteou” com uma frase que dizia mais ou menos que “a infância acaba quando adquirimos consciência da morte”. O autor da frase deixou de ser importante, já que ela me foi dita algum tempo depois de ter recebido um abraço sofrido da Manu, às lágrimas, dizendo, agarrada ao meu pescoço que não queria morrer nunca.

*****

Num daqueles momentos já conhecidos e de costume aqui em casa, Maridinho chegou e foi contar história antes de colocar as crianças na cama. Fim da história, hora de rezar. Manuela prestou a maior atenção, especialmente à parte "agora e na hora de nossa morte..."

- Papai, o que é morte?

- E quando a gente morre, Filha...

- E pra quê reza isso?

- Para proteger a gente, Manu...

- Para proteger e a gente não morrer?

- Para proteger, Manu...

Com os olhos cheios de lágrimas, Manuela continuou perguntando e querendo saber:

- E como é que faz para não morrer?

Ele só queria fugir do assunto, eu imagino:

- Que besteira pensar nisso, Filha, não precisa pensar nisso agora, as pessoas só morrem quando estão muito, muito velhinhas.

- Mas eu vou morrer, Papai? Eu não quero morrer nunca.

Nessa hora, estava aos prantos e foi aí que saiu do quarto, foi me procurar e me abraçar na sala.

*****

Se a infância de fato termina com a consciência da nossa finitude, não consigo definir em que fase da vida estou. Quer dizer, eu sei que eu vou morrer, mas a aceitação desse fato inevitável ainda não está bem resolvida, eu acho. Eu tenho tanto para fazer, para ver, para ensinar, para educar, para rir, chorar, me emocionar, que só peço tempo e proteção.

Tempo e proteção, por favor?

Se é assim para mim, imaginem para uma criança de quatro anos que quer aprender a patinar com 5 anos, fazer festa do pijama com as amigas em casa, ir dormir na casa das amigas, ter um cabelo tão comprido quanto o da Rapunzel (haja tempo!), que quer ser adulta e usar as minhas roupas e maquiagens, quer trabalhar no computador, ser pizzaiola e cabelereira, ser mãe e avó. Eu também quero tudo isso. Para ela e para mim.

Tempo e proteção, por favor?

*****

Mas parece que ela entendeu tudo, teve um flash, não sei de que intensidade ou quão iluminado era, da consciência da morte para todos nós. A única certeza do ser humano. Será que ela sabe?

Maridinho disse que a protegeria para sempre e que ela não ia morrer jamais.

*****

Eu não sei se vocês, mas eu também teria vestido a minha fantasia de Super Mãe, como muitas vezes é necessário que o façamos diante dos nossos filhos e responderia a mesmíssima coisa.



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16 comentários:

Carol Garcia disse...

de se pensar.
e confesso que me arrepia mais falar sobre morte do que sobre sexo com o isaac.

bjo

Milene diiirce disse...

Esse negócio de morte não é fácil.
Qdo minha pequena Alicia se foi, eu entrei em pânico por não saber como explicar isso ao irmão de 2 anos.
Outra mãe de UTI ajudou: "fala que virou uma estrela".
São assuntos que, mais dia, menos dia, precisarão ser abordados.
Os orientais parecem lidar melhor com o assunto.
Nós já temos mais dificuldade, afinal, a palavra saudade só existe no nosso idioma.
Jokas emocionadas da Mi @diiirce

Unknown disse...

Esta semana morreu a filha de uma amiga, aos 19anos, acidente de carro. Me fez pensar muito na morte, e no tempo que nao temos. Tambem quero protecao e tempo, para que eu possa ver os meus filhos crescerem e estar com eles, e para eles, sempre. Beijos!!

Unknown disse...

Acho que isso não é bem rsolvido para ninguém. Só de imaginar isso a gente já fica mal né? No começo do ano estava atras de um diagnóstico para mim ( que felizmente não deu em nada), mas que fiquei assustada. Não era por mim, mas pelos meus filhos. Quero e preciso de tanto tempo ainda. Fiolho, então, nem imaginar.

Vanessa Cavasotto Leite disse...

Também não sei como elaborar esse assunto pra mim mesma ainda, imagina quando o Lucas questionar.
A morte é um grande desafio pra gente aceitar e compreender.
Acho que os filhos nos tornam mais fortes, quando ficamos diante desse papel. Queremos todo o tempo do mundo.
Beijos
@nessadobeto

Bianca disse...

É, paramos para pensar mesmo!! Pensar em não morrer por causa deles, pensar em qual explicaçao dar sobre a morte... isso pq vcs ainda não chegaram no "que acontece depois que a gente morre, para onde vamos, voltamos??"
beijo
ps: Vou fazer um post e vou citar o mamatraca, pode ser?

Vivi disse...

Sempre passo por aqui, leio, me divirto e nunca comento. Mas fiquei mesmo pensando no qto é difícil explicar certas coisas às crianças, vê-las sofrer com algo.
Tenho lido e aprendido, pois ano que vem tb quero ter meu bebê e ter história para contar.

bjim

lolo disse...

Ai, camila, que difícil. Eu confesso que nunca tive medo da morte, até virar mãe. Passei a ter um pânico terrível de morrer, não gosto nem de pensar (ou escrever) sobre isso.

Anônimo disse...

Realmente esse não é um tema fácil de ser abordado com as crianças...
Como professora de educação infantil tive que falar nisso algumas vezes com as crianças sempre respeitando as crenças e religiões de cada família...
Mas, tenho uma dica boa, muito boa: existe uma coleção de livros infantis (que eu considero maravilhosa!!!) da Editora Paulus, chama-se Coleção de Terapia Infantil e aborda assuntos muito interessantes... Dei um dos livros de presente a um aluno de seis anos que perdeu o pai no ano em que eu lecionava para ele. O livro que trata da morte chama-se "Por que ter medo?", ele vem com lindas ilustrações e explicações que acalmam o coração das crianças...
A autora é Molly Wigand. Vale a pena conferir!!!

Beijos!!!

Lívia.

Juliana Ramos disse...

O bicho pega MESMO qdo, com +ou- 11 anos, essas respostas não fazem acabar o assunto...
O entendimento é maior e o medo ainda é o mesmo!!!
E agora o medo é que a gente morra. Meu filho MORRE de medo de perder a gente!

E como é que eu prometo para um filho que eu não vou morrer???

É F@#%!!!

Bjo

Ivna Pinna disse...

Camila eu teria feito a mesma coisa. Certeza! Diria que isso nunca ia acontecer.. falo isso pq acabei de postar uma coisa parecida, sobre a morte de um passarinho que achamos na rua e levamos pra casa, pra cuidar dele. Eu fiz oq ue meu coração mandou, disse que o bichicho tinha ficado bom e que já tinha voado pra casa.
Essa situação é difícil até para adultos, imagina pra eles.

beijos

Mariane, Richard e Ricardo disse...

Assunto muito difícil mesmo, Camila, explicar isso para uma criança de 4 anos é difícil e triste... mas sou da opinião de não mentir...porque pode acontecer(DEUS nos livre) de uma amiguinha morrer, alguma criança que ela conheça...aí ela pode vir a pensar que a culpa foi do pai e/ou mãe que não a protegeu suficientemente e sempre achar que a culpa pela morte é dos pais, o que seria injusto e errado! Um ótimo assunto a se pensar!!bjos, Mariane

Unknown disse...

Concordo que tenha que falar a verdade, mas de acordo com cada idade. O que a Mariane disse eu tb acho, por mais que a gente proteja, não temos esse poder e a gente muda de assunto, mas sempre tem um espírito de porco que fala coisas para eles. Aqui eu falo que foi pro céu, mas explico que não te volta. Pro pequenininho de 2 anos, qdo expliquei do cão da minha sogra, falei: "cabô", foi pro céu e não tocou mais no assunto.

Ísis Rocha disse...

"Tempo e Proteção, por favor?"

Faço minhas as suas palavras.

Falei pela primeira vez sobre a morte com a Maria (2 anos) hoje.
A cachorrinha da avó dela morreu e vi que estava ali uma oportunidade bem mais leve do que falar da morte de uma pessoa próxima.

Falei que a cachorrinha tinha morrido e ela automaticamente me perguntou o que era morrer.
Eu disse que morrer era se mudar pro céu. Acho que a idade ajudou a limitar os "por quês".
Ela só perguntou porque então a avó estava triste.
E eu expliquei que ela sentia saudades. Mas ia passar.
Ela aceitou e disse que ia dar um beijinho pra ajudar.

Um dia isso vai voltar a acontecer e eu só peço pra ter as palavras certas a dizer.

Vida de Gestante e Mãe disse...

Nossa Camila, até eu chorei lendo! Fiquei imaginando que situação que as crianças nos colocam e como nós, seres humanos, temos medo do desocnhecido desde pequenos, né?
Bjao
MaH

Anônimo disse...

Que tema. Difícil. Eu concordo com um dos comentaristas. Eu não tinha medo da morte, até ter minha filha. Estremeço só de pensar nela desamparada por mim. Bom para pensar. Obrigada. Beijos!

 
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